Este artigo problematiza a generificação da infância, a partir de uma análise acerca da participação de meninas, entre cinco e nove anos, no concurso de rainha mirim da Festa dos Caminhoneiros na cidade de Itabaiana-SE. O argumento do trabalho é o de o concurso é um território de aprendizagens de gênero, veiculando normas regulatórias e inscrevendo nos corpos das garotas que dele participam modelos do que é ser menina/mulher. No entanto, compreende-se que as crianças são sujeitos ativos na relação com o mundo e, neste contexto, interpretam e negociam suas corporeidades e seus papéis de gênero. Para a produção de dados, foram realizadas observações dos ensaios do concurso e produção de diários de campo. Concomitantemente foram feitas entrevistas com os adultos (mães e organizadores) que participaram do evento. O contato com as crianças foi intermediado pela construção de um caderno de memórias onde, através de desenhos, colagens e escritos das meninas participantes, se pudesse ter acesso às compreensões/experiências/sentimentos que elas tinham ao participar do concurso. A análise dos dados apontou que, além das dimensões estéticas, o concurso é atravessado por aspectos mercadológicos e por visões contraditórias sobre o que é infância. Ele é um espaço de aprendizagens de gênero, de conformação de corpos infantis a determinadas expectativas de feminilidades que, todavia, são eventualmente borradas pelas crianças. A análise dos desenhos evidenciou também que, para além de uma competição geradora de ansiedade e tensões, as crianças construíam relações afetivas entre si pautadas numa política da amizade.