O artigo se baseia na experiência e no debate extensionista popular do Projeto Universitários Vão à Escola , da Universidade de Brasília. Criado em 2005, com atuação em Itapoã-DF, o projeto é composto de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos e estudantes universitários. Após mais de uma década de existência e passando por diversas reformulações internas ao longo deste período, a UVE se propõe a ser um projeto de extensão que busca o diálogo com novas formas de saber libertárias e emancipadoras, objetivando a construção de um espaço pedagógico que rompa com posições políticas e epistemológicas hegemônicas, entrando em contato e desenvolvendo, assim, atitudes e concepções afirmativas que, até então, são marginalizadas e oprimidas.
Diante desse contexto, ao longo da atuação do projeto em Itapoã, os temas de sexualidade e identidade de gênero surgem a partir de variadas situações, como por questionamentos sobre o significado de diferentes conceitos e termos, pela expressão homofóbica a partir de xingamentos verbais ou escritos, pela indagação sobre a sexualidade contra-hegemônica de orientadores e orientadoras ou enquanto tema central das atividades desenvolvidas. Falas e situações que, pela diversidade de pensamento, expressão e vivência das crianças e adolescentes, podem vir como significantes de entendimentos de rejeição, aceitação ou de dúvida sobre, por exemplo, homossexualidade, bissexualidade, transgeneridade, desejo e gênero.
A resposta tradicional que poderia ser mobilizada passa pela articulação e transmissão de saberes rígidos, adotando conceitos fixos sobre gênero e sexualidade. Uma ação pautada pelo depósito de conteúdos a partir de uma pedagogia que objetiva a padronização do que está sendo transmitido sem um diálogo e sem levar em consideração a realidade e os processos do educando, que é tratado enquanto objeto do fazer pedagógico.
A extensão, porém, ao se basear em noções de troca de saberes, horizontalidade e respeito e adequação às diferentes subjetividades e contextos encontrados durante sua prática, rejeita tais lógicas. Uma educação emancipadora e libertária pressupõe a quebra da colocação do “educador” em posições superiores de poder enquanto detentor de um saber que deve ser transmitido sem ser transformado e questionado pelo “educando”. A libertação da situação de oprimido e uma construção do “ser mais” rompem com dicotomias tradicionais do espaço educacional.
Assim, pretendemos apresentar neste trabalho as discussões promovidas pelo projeto, pensando em maneiras de desenvolver coletiva e dialogicamente respostas às ações e aos questionamentos encontrados. Partimos da ideia, então, de que o combate à heteronormatividade e a construção de uma afirmação identitária pautada pela cidadania e pela libertação passam por experiências pedagógicas que se posicionam fora do espectro bancário tradicional.
A extensão universitária propõe o rompimento com a lógica vertical do saber hegemônico científico na construção de uma unidade dialética entre conhecimento do concreto, sabedoria popular e cientificidade acadêmica. Alinhando-se, então, com o questionamento à heteronormatividade expressa nas relações entre orientadores, orientadoras, crianças e adolescentes do projeto apontamos formas educacionais informais questionadoras e libertárias visando à construção dialógica de um debate que abarque tanto as expressões marginais como hegemônicas de sexualidade e identidade no ambiente de nossas atividades.