Esse trabalho parte das considerações finais de minha tese de doutorado, defendida em maio de 2017 no Instituto de Medicina Social da UERJ (IMS-UERJ). O objetivo da tese era discutir as múltiplas vidas da molécula testosterona em diferentes corpos masculinos. Para tal, ouvi 21 relatos de história de vida de homens cis e trans, de diferentes idades, raças/cores e orientações sexuais. O recorte no presente trabalho foca uma preocupação sanitária frequentemente levantada acerca do uso do hormônio: a testosterona faz mal? Na tentativa de responder a essa pergunta, e inspirado pelo recente ensaio de Peter Fry e Sérgio Carrara sobre a origem da homossexualidade, construí um quadro com as principais posições sobre a polêmica decisão de usar uma substância química para instaurar uma modificação corporal. Ao que tudo indica, tomar ou não testosterona é balizado por decisões mais morais que sanitárias, e surgem justificativas que poderiam ser classificadas como progressistas e conservadoras, tanto a favor como contrárias ao uso. Ainda que tal quadro seja pensado no caso específico da testosterona, a proposta desse trabalho é justamente refletir sobre sua expansão e aplicabilidade para o uso de medicamentos de forma mais ampla, ao menos para aqueles que afetam questões culturalmente associadas ao gênero e/ou à sexualidade.