Apesar de constantemente revisitada, a temática da leitura apresenta-se ainda como objeto de investigação. Partimos da hipótese de que recuperar os discursos e a história de leitura de professores poderá contribuir para (re)pensar o poder que está presente em todas as instâncias da sociedade. As práticas de leitura e os dizeres educacionais são um exemplo disso. Nesse sentido, este trabalho apresenta reflexões acerca dos discursos de professores de língua portuguesa sobre a leitura, a fim de compreender, a partir da história de suas práticas de leitura, as relações de poder que se instauram no exercício das leituras do professor do ensino médio de escolas públicas e privadas, no município de João Pessoa-PB. Para a análise dos dados, partimos dos pressupostos teóricos de Bakhtin/Volochinov (2002) e Foucault (2003) sobre o discurso e tendo em vista a leitura enquanto prática institucionalizada e diversificada, amparamo-nos em estudos desenvolvidos por Orlandi (2012). Considerando a leitura enquanto uma prática social e cultural, temos como referencial teórico os trabalhos de Certeau (2012), Chartier (1990, 1991, 1998) e Manguel (1997), referenciamos também os trabalhos de Abreu (1999, 2010), Lajolo (2008) e Zilberman (2009), Sousa (2002, 2008, 2009), Coracini (2010), Alves (2011), entre outros. Em termos metodológicos, este trabalho constitui-se em uma pesquisa qualitativa, cujos dados são resultantes de entrevistas, constituídas de perguntas semiestruturadas, realizadas com professores de ensino médio de 3 (três) escolas públicas e de 3 (três) escolas privadas do município de João Pessoa-PB. Como categorias de análise, apontamos duas possibilidades de investigação que permitiram uma compreensão mais abrangente do nosso sujeito, o professor-leitor: antes da sua atuação profissional e durante/após a sua atuação profissional. Desse modo, pretendemos observar a relação que o sujeito manteve com a leitura na infância e/ou na juventude e a relação que esse mesmo sujeito manteve com a leitura enquanto professor-leitor. A partir da análise dos dados, concluímos que os professores em exercício no ensino médio, nas escolas públicas e privadas de João Pessoa-PB, trazem consigo uma trajetória leitora, adquirida ao longo de sua vida, na formação inicial e durante sua atuação profissional, marcada por alguns discursos já cristalizados na sociedade atual. Em outras palavras, chegamos à conclusão de que os discursos dos professores revelam resquícios de uma história da leitura que remonta a práticas historicamente solidificadas de aquisição e aprendizagem da leitura no âmbito familiar e escolar, assim como dizeres naturalizados que o construíram enquanto sujeito leitor. Isto é, de acordo com as relações de poder, os aspectos culturais de sua formação leitora são marcados socialmente, sendo organizados e controlados, a partir de critérios e regras construídos e solidificados através do tempo. É também importante ressaltar que as questões que envolvem o acesso e a produção de leitura desses professores são determinadas tanto pelas condições sociais nas quais eles se encontram, quanto pela própria tomada de iniciativa desses sujeitos em prol de seu exercício profissional.