A importância do conhecimento e do domínio da didática na formação inicial de um professor já deveria ser uma questão resolvida, no entanto, esse tema ainda gera polêmica, fomentando investigações que servem de foco a pesquisas acadêmicas voltadas ao ensino e à aprendizagem. O pouco valor e espaço dado às disciplinas direcionadas à prática docente, ao saber para ensinar, via experimento e reflexão sobre diferentes metodologias, técnicas e o exercício da transposição didática, pode ser um dos principais indicadores da baixa qualidade na formação docente e no ensino/aprendizagem, aqui, no caso, de português, na rede escolar brasileira. Como professora formadora de professores de línguas, essa problemática tem sido tema de minha prática docente no âmbito do ensino e da pesquisa, pois acredito ser função do formador preparar o licenciando a ser capaz de fazer escolhas, de saber selecionar e usar diversos materiais didáticos, em especial, o livro didático; de planificar suas aulas; de criar dispositivos didáticos próprios a diferentes objetivos; de identificar modos de interagir com o aluno; de conhecer estratégias para avaliar a aprendizagem, enfim, de muni-lo com informações, recursos e estratégias que darão segurança a seu agir profissional e qualidade ao ensino. O presente trabalho tem como objetivo tecer uma reflexão teórica sobre a construção do saber na formação inicial do professor de língua, destacando o importante papel da didática nesse processo, buscando apontar caminhos que possam viabilizar uma formação e um ensino mais produtivo. Para tanto, norteamos nossa abordagem a partir da definição de língua como um processo constante de interação verbal, no qual alguém diz alguma coisa a outro alguém, com dada intenção, em determinadas circunstâncias discursivas. Quanto à formação do professor, tomamos como base o princípio defendido por didaticistas de que a profissão docente apresenta duplo estatuto, envolvendo o saber a ensinar e o saber para ensinar. Defendemos que essa dupla face precisa ser levada em conta no processo de formação desse profissional da educação. Então, ao estudar o saber sob sua face voltada ao objeto de ensino (a ensinar), defendemos que o professor de língua realizará um bom trabalho se selecionar o texto (gênero de texto) como ponto de partida e de chegada de seu trabalho com a linguagem/língua na sala de aula. Por conceber o ensino de língua como uma ação social, defendemos que ele seja desenvolvido como um processo de constante escuta, leitura/interpretação e de produção de textos, tanto oralmente quanto por escrito. Em contrapartida, ao estudar o saber sob a perspectiva de para ensinar, da ação específica do professor em aula, o conhecimento volta-se a reflexões sobre técnicas e práticas específicas desse agir social, tendo a Transposição Didática como ferramenta básica. Vemos a realização de pesquisas, projetos (interdisciplinares) e o diálogo com o professor em serviço como um dos caminhos que pode viabilizar mudança na abordagem do ensino de língua, na medida em que formarmos um professor pesquisador, questionador e crítico. Mas como colocar esse ponto de vista em prática? Realizamos nosso estudo na busca de respostas a essa questão.