Dôra, Doralina faz parte de um conjunto de romances da escritora cearense Raquel de Queiroz que têm mulheres como protagonistas. Assim como Conceição em O Quinze e Maria Moura em Memorial de Maria Moura, Dôra é uma personagem que não segue os moldes impostos pela sociedade patriarcal e rompe com os conceitos pré-concebidos para a mulher dos anos trinta. O presente trabalho tem como objetivo analisar a construção identitária da personagem-título do romance em questão, utilizando para isto as teorias sobre identidade e diferença de Hall e Woodward (2011), bem como os conceitos de Fernandes(2006), ao explanar sobre do papel do Outro na constituição de um indivíduo autônomo e independente. Analisaremos diferentes contextos espaciais descritos ao longo do enredo, por entendermos a importância em se compreender o percurso da personagem em busca de sua autorrealização. O êxodo rural incorporado ao perfil da obra promove várias mudanças ao comportamento de Maria das Dores. A postura ingênua gradativamente dará lugar a uma nova, determinada em enfrentar os percalços da vida. A procura por liberdade e satisfação pessoal funcionou como um mecanismo de impulsão levando-a a sair do espaço de origem em busca de novos referenciais e novas experiências.Os costumes difundidos no sertão entram em choque com os costumes pertinentes ao espaço urbano, configurando-se assim, como pontos cruciais para entender-se a caminhada evolutiva da narradora rumo à almejada liberdade. Além disso, ressaltamos uma possível forma de abordagem do texto para se discutir questões de gênero no ensino médio ao estabelecer um comparativo entre o lugar da figura feminina na sociedade da década de trinta e seu lugar na sociedade atual.