Seguindo o modelo tradicional do ensino de literatura implementado na escola básica, é comum muitos jovens estudantes concluírem o Ensino Médio sem quase terem entrado em contato com textos de autoria feminina. Na maioria das vezes, o conhecimento literário deles se resume à citação de nomes de escritores homens, já pertencentes ao cânone. Por sua vez, nomes e obras de escritoras, mesmo canônicas, parecem inexistir para eles. O desconhecimento da existência dessas autoras e, consequentemente, de suas produções, em grande parte, pode ser atribuído ao próprio livro didático. Quando se trata, então, de textos e autoras de obras africanas, a situação se torna ainda mais agravante já que o problema não se restringe ao aluno, estendendo-se à maioria dos professores. Partindo disso e com dois desejos: dar visibilidade à escrita de autoria feminina e divulgar a literatura africana de língua portuguesa, o artigo procura evidenciar dois nomes femininos do cenário literário africano lusófono: a cabo-verdiana Dina Salústio e a moçambicana Paulina Chiziane, procurando levantar questões para o trabalho em sala de aula por meio de seus textos, de modo a possibilitar discussões e reflexões principalmente sobre a mulher e sua condição na sociedade. Os contos selecionados para este trabalho são “Liberdade adiada”, do livro Mornas eram as noites, da própria Dina Salústio e “ As cicatrizes do amor”, escrito por Paulina Chiziane e presente na coletânea O conto moçambicano, organizada por Maria Luísa Godinho e Lourenço do Rosário, vozes exponenciais da crítica literária de Moçambique.