No cancioneiro de Chico Buarque, uma das vertentes mais fortes é a social, através da qual muitos problemas, principalmente aqueles ligados à política, foram denunciados. Mas, para poder exercer o seu ofício, muitas vezes, o poeta precisou lançar mão de determinados mecanismos, os quais se tornaram uma espécie de disfarce utilizado para burlar o autoritarismo dos militares e o cerceamento da liberdade de expressão artística. E um desses mecanismos é a nostalgia, representada em algumas canções pela infância, que busca no passado, nas fontes primárias do convívio social, as armas para não compactuar com o presente opressor, quando reinam a arbitrariedade e a truculência. Portanto, nosso objetivo é observar a maneira como a infância, figurada em várias canções do autor, produzidas, principalmente, na década de 1970, se apresenta como forma de resistência aos desmandos políticos e como o poeta utiliza esse recurso para, de certa forma, recusar o presente fortemente ideologizado, marcado, acima de tudo, pela força bruta do estado de exceção. Além disso, procuraremos observar como as canções podem servir como instrumento pedagógico, principalmente no trabalho com literatura no ensino médio. Utilizaremos como suporte teórico as observações de MENESES (2002), BOSI (2004), SILVA (2010), ADORNO (2012) e CALVANI (1996).