Até o início do século XX, poucos escritores brasileiros haviam dado espaço diferenciado à mulher na literatura infantil, imperava ainda a imagem dos clássicos infantis europeus, em que as personagens eram descritas como submissas e com excessivo cuidado em relação à descrição física, exaltavam-se sempre os traços da beleza. A partir da obra Reinações de Narizinho (1957), o escritor Monteiro Lobato insere na literatura, voltada para o público infantil, quatro personagens femininas no centro da trama: a matriarca da família, Dona Benta, e a sua neta Lúcia, a cozinheira de mão cheia, Tia Nastácia, e a boneca de pano Emília. São personagens que refletem brasilidade, tanto nas características físicas quanto comportamentais, que ajudam no processo de naturalização da cultura nacional. Essas personalidades se tornaram clássicas na nossa literatura infantil e marcaram diferentes gerações. Lobato rompeu barreiras ao inserir, em maior número, protagonistas femininas, colocando-as no mesmo patamar dos personagens masculinos. Na forma da representação e, também, no discurso a elas atribuído, é fácil perceber a ruptura com os velhos modelos literários, pois essas personagens possuem personalidades e argumentos fortes para se expressarem e redefinirem os seus papeis sociais. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a importância da figura feminina na obra Lobatiana, caracterizando-as em seus papéis na história como incomuns aos aspectos socioculturais da época de publicação. É também nosso objetivo ressaltar a importância da obra na construção da atual literatura infantojuvenil brasileira. Para dar suporte à discussão, recorremos aos teóricos como Zilberman (2005), Coelho (1998) e Lajolo (1996).