O presente artigo visa analisar a vida sexual religiosa nos conventos, tanto da metrópole portuguesa como também da colônia brasileira nos séculos XVII e XVIII. Por meio do dialogo com poemas escritos por religiosos que viveram nos bastidores desses ambientes, buscando descobrir através disso, aspectos da vida sexual reclusa, quais estratégias se utilizaram para escapar dos olhos da sociedade patriarcal e da Igreja para vivenciarem esses amores proibidos e as articulações praticadas na arte da sedução. Estabelecendo um diálogo com tais poemas, podemos transpassar o fazer histórico ligado a fontes poéticas e literárias em consonância com a historiografia brasileira que foca na temática abordada e na história das mulheres em geral, a exemplo de Soror (2014) e Del Priore (2005; 2013). Essa é uma historia do corpo feminino, de seus afetos, de suas práticas, mas também de seus medos, de seus paradigmas e formas de sobressair no meio religioso e celibatário. Resgataremos essa mulher rebelada, que não se atém aos modos normativos de sua época, uma mulher além de seu tempo, utilizando a noção de indivíduo “ordinário’’ de Certeau (1994) para retratar tais mulheres que escapam a disciplina, e se tornam antidisciplinares, que burlam as regras e a normatividade. Demonstrando que os conventos não foram só um local de enlevo espiritual, mais também um local onde os prazeres da carne foram saciados, demonstrando que o protagonismo feminino no âmbito da tomada de iniciativas, vai em conflito com a noção patriarcal de mulher submissa e mulher devota, desprovida de ação e de identidade própria.