Publicado em 1986, o romance Foe do escritor sul-africano J.M.Coetzee narra a história de Susan Barton, única sobrevivente do naufrágio de um navio amotinado que deságua justamente na mesma ilha de Robinson Crusoé (“Cruso”) e seu fiel Friday. Susan se depara com sexagenário de aparência cansada e envelhecida, um homem relapso e contrário à mentalidade e modo de vida industrioso que encontramos no Crusoé de Daniel Dafoe. Um Crusoé às avessas, que não quer ir embora e morre ao sair de sua ilha. O romance segue com a empreitada de Susan Barton para transformar sua narrativa em livro, em literatura. Empreitada que se dá por fracassada, pois a narrativa é impossível de ser contada, tudo é anulamento, falta, vazio, interrupção. O presente trabalho explora a ideia da narrativa que é a impossibilidade dela mesma, um narrar sobre não narrar, uma proposição que se estende pela obra de Coetzee e que aqui se apresenta como uma reescritura de um clássico sobre a égide da não-escritura, um impasse inconcluso.