A família tem papel fundamental na prevenção e mitigação das dificuldades de aprendizagem (DA), pois é ela que atua na formação de base da criança, direta e inicialmente durante a gestação e nos primeiros meses de vida e, posteriormente, na formação do vínculo que serve de base para estruturação psíquico-social do indivíduo. A escola, por sua vez, complementa e amplia a formação dos sujeitos, seja proporcionando um ambiente de socialização que extrapola os vínculos parentais, seja por meio do ensino de noções, conceitos, habilidades e atitudes oriundas de uma tradição humanística e científica herdeira que se materializa em conhecimentos escolares por meio do currículo. Nesse sentido, este artigo pretender discutir e defender a relevância da parceria entre escola e família na prevenção e tratamento das DA. Inicialmente apresentamos, a partir das contribuições de Philipe Aires, uma perspectiva histórica da constituição da família moderna e de sua relação com a criança. Em seguida, retomamos a noção de capital cultural de Pierre Bordieu, a fim de incorporá-la na análise do papel desempenhado pela família na conformação de estruturas de linguagem na criança que são socialmente valorizadas pela escola, sendo também, potencialmente, excludentes. No momento seguinte, situamos a discussão em torno da concepção sobre as DA, inclusive no que se refere aos seus fatores desencadeantes. Finalmente, problematizamos algumas questões que envolvem a efetiva construção da parceria entre escola e família e sua contribuição para prevenção das DA. Privilegiamos uma abordagem que incorpora as relações entre sociedade e cultura por entendermos que, tanto a família quanto a escola, instâncias sob as quais recaem a responsabilidade pela prevenção das DA, constituem-se e se transformam a partir de uma dinâmica historicamente determinada e cujas implicações são sentidas não só no nível macro e micro social, mas também na esfera individual, considerada em sua perspectiva biopsicossocial.