O ensino de literatura para surdos ainda enfrenta um sistema que privilegia o uso do português como língua de instrução e de fruição estética, o serviço de interpretação e tradução da Libras na mediação didática, a perspectiva grafocêntrica e o ouvintismo estrutural, especialmente, no contexto da escola regular. Romper com essa tradição que nega o aluno surdo em sua condição de sujeito sócio-cultural, falante de uma língua de sinais e participante de uma comunidade surda rica em códigos e tradições, pode ser um caminho para uma prática pedagógica mais plural e atenta à diversidade. Nesta reflexão, realizamos a leitura de textos narrativos produzidos por alunos surdos do curso de licenciatura em Letras Libras/Língua Portuguesa, no âmbito da disciplina de Literatura Surda, para pensar a importância de protagonismos criativos nas experiências do leitor/produtor surdo com o texto literário. Os estudos de Sutton-Spence sobre a literatura na educação de surdos e de Hélder Pinheiro sobre o ensino de literatura corroboram, neste artigo, para a compreensão de possibilidades mais amplas na abordagem do texto literário em sala de aula. Submeter o aluno surdo de graduação a experiências criativas no ensino de literatura e, com ele, repensar práticas escolares que, em certos momentos, o distanciaram do texto literário (re)conduz o leitor a um processo de identificação e pertencimento essencial à fruição estética.