O trabalho relata a experiência de um grupo de narrativas oníricas com pessoas dissidentes de gênero e sexualidade no serviço escola de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em 2022. A proposta do grupo baseou-se na oniropolítica, isto é, na ideia de que os sonhos são enunciadores do laço social, vistos em seu potencial de criação e transgressão das dinâmicas coletivas. O mundo onírico é visto como o lugar do estranho, dos enigmas sem sentido e fora do espectro da razão, o que faz dos sonhos um potencializador de uma discursividade outra, inventiva e problematizadora do universo racional. Neste sentido, o grupo forjado foi um convite a olhar para os sonhos a fim de abrir espaço para a expressão do não-sentido, mas deles também extrair enunciados que configuram a tensão e mal-estar do laço social para com a temática das pessoas dissidentes de gênero e sexualidade. Foram realizados 8 encontros semanais, durante 2 horas cada, com cerca de 12 participantes. Partindo da horizontalidade entre as pessoas participantes, as narrativas oníricas circularam entre a palavra verbalizada, a produção de colagens com revistas, desenhos, técnicas de escrita e experimentações de montagem de cenas com o corpo. Ao sustentar coletivamente a estranheza dos sonhos e dos nossos corpos dissidentes, foi possível suportar e resgatar a vida que pulsa na diferença. Desse modo, o contorno de pessoas dissidentes não foi realizado exclusivamente para narrar sofrimentos relacionados à dissidência, mas como impulsionador de processos grupais e criativos.