Durante a última década, no Brasil, muitos coletivos de pessoas dissidentes de gênero criaram textos orientadores para catalogar a linguagem disruptiva, como uma maneira considerada mais inclusiva para a designação de gênero (FISCHER, 2020; BERTUCCI, 2021; Guia para linguagem inclusiva, 2021; Manual para uso não sexista, 2022). No entanto, nenhum desses materiais apresenta fundamentos de análise e descrição linguística científica nos métodos de catalogação e na exposição dos dados. Em contrapartida, diferentes trabalhos desenvolvidos na Linguística, a partir dos últimos cinco anos, vem descrevendo os modos típicos da linguagem disruptiva no português brasileiro (LAU, 2017; LAU & SANCHES, 2017; SANCHES, 2019; SCHWINDT, 2020; BARBOSA FILHO, 2022), mas sem nenhuma consideração ao valor de prática social que esses modos possuem na conjuntura de uma disputa que os têm como ferramenta política da proclamação ou da morte de pessoas cujas identidades de gênero são historicamente subalternizadas. Diante disso, desenvolvi uma pesquisa-ação que vem se encarregando de preencher a lacuna desse cenário ao mapear a linguagem disruptiva de gênero do Brasil (tipos e variantes), identificando suas manifestações recorrentes na língua portuguesa brasileira e as lendo como discurso, isto é, como modos regulares de ação social que funcionam como peças ideológicas semiotizadas no interior de nosso sistema linguístico. Trata-se de um estudo com forte metodologia pedagógica. Do início do trabalho, em julho de 2021, até este momento, foram 33 aulas, palestras e entrevistas e 14 cursos e oficinas. Este relato de experiência conta a trilha dessa caminhada de pesquisa-ativismo-educação.