Não há quem não tenha assistido a filmes sobre o fim do mundo, repleto de cenas sangrentas, despedidas e mortes. Dentre as diversas possibilidades imaginadas nessas obras para o fim da humanidade, uma ameaça que se destaca é a das criaturas não humanas, como pandemias e epidemias causadas por vírus, que são frequentemente apresentadas como a causa da extinção humana. Diante do interesse pelo modo como a figura do vírus e humano são dispostas nessas obras, o presente trabalho tem como intuito explorar os resultados iniciais de uma pesquisa que busca cartografar o vírus como uma figura de poder, conceito proposto pela antropóloga Elizabeth Povinelli. Considerando que os filmes não são apenas representações, mas sim formas de produção e regulação que moldam relações de poder e constituem humanos e não humanos, mobilizo o filme Procurada (2019), dirigido por Takashi Doscher e produzido nos Estados Unidos, para percorrer a íntima relação entre seres humanos e vírus. Ao contar a história de um mundo devastado por um vírus fatal que afeta exclusivamente mulheres, entendo que essa produção abarca questões de gênero, diretamente associadas à contaminação humana. Para além de questões de moralidade e intencionalidade, a partir da replicação e evolução desses vírus, esse trabalho busca explorar a dificuldade de nos percebermos apenas como meio de reprodução para outros e as questões generificadas que surgem nesse filme, quando nos deparamos com outros não humanos