Este trabalho pretende refletir sobre a escrita de autoria feminina no Brasil do século XIX, a partir da poesia de Maria Firmina dos Reis. Um dos principais aspectos a ser analisado é o uso do eu-lírico masculino pela autora como uma possível estratégia para mascarar elementos homoeróticos em sua poesia. Partimos de uma pesquisa inicial que considera a enunciação da afetividade entre mulheres na obra poética de Firmina, a partir da leitura de Zahidé Muzart na antologia Escritoras Brasileiras do Século XIX (1999), na qual a pesquisadora “estranha” a incorporação do eu lírico masculino por autoras da época. Muzart atribui esse artifício à impossibilidade das escritoras em falar abertamente de seus desejos, fazendo com que criassem “verdadeiros cantos homossexuais”, responsáveis por uma suposta “pobreza” dessas poesias e pelo seu esquecimento diante da crítica. Na nossa leitura, existe um apagamento sistemático da produção de escritoras no período, o que representa um tipo de fracasso imposto pela crítica hegemônica. Pretendemos pensar o fracasso como uma forma de escapar das compreensões convencionais do que é considerado sucesso, a partir do conceito colocado por Jack Halberstam em A arte queer do fracasso (2018), onde propõe que fracassar, perder, ser esquecido, pode fazer com que encontremos formas mais criativas de viver e ser no mundo. Portanto, buscaremos questionar uma visão normativa e depreciativa da poesia de Maria Firmina dos Reis, contribuindo com novas possibilidades de leituras da sua obra e dar reconhecimento a esses lugares de escrita e de fala dentro do campo literário.