A culinária africana e afrodescendente associada ao caráter e dever da Lei nº 10.639/03 é importante para as discussões sobre cultura alimentar, nutrição e educação. A escravização criminosa trouxe mais de quatro milhões de africanos para o Brasil. Eles trouxeram não só sua força de trabalho, mas sua cultura, conhecimentos técnicos e valores. Houve, desse modo, a reconstrução de uma cultura, inclusive culinária, com os elementos locais; uma culinária afro-brasileira. Assim, tendo como fundamentação teórica os escritos de Manuel Querino, entendemos que o colono preto, com o produto do seu trabalho, contribuiu de forma indiscutível para “civilização” do Brasil. É claro que precisamos olhar com criticidade e perceber que a escravização limitava o acesso aos insumos e a própria prática culinária. Entretanto, mesmo sob tal condição de limitação podemos ver usos criativos, a inserção de novos alimentos, a ressignificação de pratos e técnicas africanas em solo brasileiro. Passamos, por conseguinte, a questionar até que ponto a prática culinária dos negros configurou-se como um elemento de resistência, como tantos outros, e não apenas uma reprodução mecânica de uma matriz culinária branca. O presente artigo faz parte de uma pesquisa de doutorado, em andamento, que busca realizar estudo acerca da cozinha afrodescente, em especial, a cozinha de santo, a partir de revisão bibliográfica do candomblé do Ceará. A proposta é analisar a cozinha numa perspectiva histórica e ampla, considerando aspectos diversos como o conhecimento, a transmissão de saberes, as técnicas culinárias empregadas nos preparos, a escolha dos alimentos, suas combinações, a apresentação dos pratos e oferendas, as pessoas envolvidas nesse preparo e os cuidados que envolvem as preparações.