Este artigo buscou investigar a constituição identitária das crianças negras brasileiras e a percepção delas sobre sua etnia e cor, a partir da observação e análise da documentação pedagógica, considerando o relatório de desenvolvimento das crianças na creche e os registros fotográficos de crianças no espelho. As observações ocorreram em um berçário de uma Creche Municipal do Rio de Janeiro. O texto reflete sobre como a subjetividade da criança pequena é afetada pelo racismo estrutural, uma vez que, na mais tenra idade, quando são bebês, elas se amam e se admiram e, ao crescer, relatam que não querem ser negros, ter cabelo crespo ou pele preta. Sem a pretensão de abarcar todas as questões envolvidas na temática antirracista, consideramos que, no contexto histórico do racismo no Brasil, a representação humana embranquecida neste país atravessa a autoimagem do negro desde a infância, reforçando a auto depreciação, a rejeição da própria imagem e a resistência às suas características físicas; além da negação dos referenciais africanos. A relevância da escola na valorização da cultura afro-brasileira emerge na estruturação de uma autoimagem positiva desses alunos. Após as análises, identificamos que a relação dos bebês com a autoimagem é muito positiva, demonstram carinho, alegria e satisfação com seu reflexo, indicando que a subjetivação de sua identidade, ainda não foi afetada negativamente pelo racismo estrutural.