O ponto central deste artigo é a personagem Macabéa. Nordestina, feia, sem perspectiva de vida, mal amada e sem destino certo. Sua história é contada sob um ponto de vista masculino, porém seu narrador (Rodrigo/Clarice Lispector) se mistura a ela durante a obra, fazendo o leitor perceber nitidamente essa tríade estabelecida, conseguindo também se inserir na estória e se ver na personagem. A hora de estrela (1977) é o último romance de Clarice Lispector. Nascida na Ucrânia em 1920, emigrou junto com a sua família para o Brasil quando tinha apenas dois anos de idade. Morou no Nordeste, onde passou boa parte de sua infância, vindo a falecer no Rio de Janeiro em Dezembro de 1977. Lispector traz em suas obras um traço introspectivo muito forte, levando o leitor à reflexão de seu eu interior. Segundo as próprias palavras da autora: ”Tem gente que cose por fora, eu coso por dentro.” Portanto, Macabéa, sua “heroína” em A hora da estrela, é um corpo como metáforas de uma existência que de alguma forma dói em Clarice Lispector, sendo “usada” para tratar de temas aparentemente banais. O que de certa forma condensa as experiências realizadas até então pela autora. Pode-se entender, após a análise de todas essas características que o enredo gira em torno de uma idéia meio filosófica: a reflexão de quem somos e o objetivo de nossa existência. Rodrigo (Clarice Lispector) decide escrever sobre a vida daquela moça feia e pobre caída no chão morta, porque de alguma forma essa história lhe sufoca. É uma espécie de grito por aqueles “esquecidos” por toda uma sociedade com os quais cada um de nós com certeza se identifica, afinal, essa é a intenção principal da autora: fazer-nos refletir sobre nossa própria existência, conseguindo ver a Macabéa que a há dentro de cada um de nós. Fazendo assim uma auto-análise e procurando algum sentido para a nossa vida, nossa existência.