MACHADO, Girlane Martins. . Anais I CONEDU... Campina Grande: Realize Editora, 2014. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/8052>. Acesso em: 23/11/2024 20:34
A constituição de identidades é um tema caro para a educação infantil, sendo as relações de gênero desenvolvidas no ambiente escolar fundantes na constituição de subjetividades das crianças, incidindo diretamente na construção de noções e sentidos sobre seus comportamentos, práticas, jeitos de vivenciarem suas identidades de gênero e sexual. As marcas de gênero, através de relações de poder dispersas em diferentes instâncias culturais, como escola, mídia, publicidade, religião, família, engendram modos de ser menina/menino, reproduzindo uma lógica heteronormativa. Na esteira disso, a justificativa de que a formação docente não “prepara” para o tratamento das múltiplas manifestações acerca relações de gênero e sexualidade na educação infantil não deve mais se sustentar, pois existe uma formação ocorrendo, inevitavelmente constituída de heterosexismo, estereótipos de gênero e silenciamento da diversidade sexual. Diante dessa problemática e partindo do contexto de uma escola pública da cidade de Natal/RN/Brasil, especificamente um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI), desenvolvemos atividades como professora auxiliar de sala enquanto estagiária do curso de Pedagogia da UFRN durante o ano letivo de 2013. Nesse período, estando em contato com os estudos de gênero e sexualidade através dos estudos feministas, movimentos sociais, grupo de estudos, notícias e teorias, passamos a observar com outros olhos as práticas das educadoras infantis, a interação delas com as crianças e as relações entre as crianças durante esse estágio. Tendo inspirações nos estudos de gênero, iniciamos por perceber os discursos das crianças e educadoras, com o objetivo de problematizar as noções sobre relações de gênero e sexualidades que foram compartilhadas em uma escola de educação infantil, através da análise dos enunciados, registrados em um diário de campo. As lentes teórico-metodológicas deste trabalho consistem na análise de discurso de Michel Foucault. Em síntese, constatou-se, através da análise de trinta enunciados oriundos dos três situações da rotina da educação infantil observadas (hora do banho, brincadeira do faz de conta e momento livre no pátio), que apesar da intervenção normativa, reforçadora de estereótipos heterosexistas e da lógica binária de gênero menino/menina, as crianças revelam e demonstram interesse e curiosidade por marcas de gênero diversas e brincam com os papéis arquitetados pelos brinquedos, brincadeiras e situações mediadas pelas educadoras.Dessa maneira, é necessário que educadores problematizem situações relacionadas as práticas pedagógicas referentes à formação de papéis de gênero, que muitas vezes fabricam opressões entre as crianças, como sexismo, machismo e homofobia.