Este trabalho busca compreender as condições que permitem jovens e adultos de camadas populares a prolongarem suas trajetórias escolares tendo em vista as tendências atuais da pesquisa sociológica, que entrelaçam os dados quantitativos com um repertório de dados qualitativos que imprimem novas nuances de compreensões acerca da longevidade escolar deste grupo em questão.Como referencial teórico, utilizamos estudos nacionais do campo da sociologia da educação focando o que tem sido denominado como “longevidade escolar” ou “trajetórias excepcionais” nos meios populares de autores como Vianna(1998), Zago (2000 e 2006), Setton(1999), Barbosa(2004) e em relação à contribuição estrangeira, especialmente as discussões teóricas e metodológicas de Lahire(1997).Foram utilizados instrumentos de cunho quantitativo através da análise de dados baseada na ficha sócio-econômica dos alunos para obter o perfil estatístico da clientela e, qualitativo, através da aplicação de entrevista semi-estruturada, investigando suas histórias, seus percursos escolares, suportes familiares, aspirações e motivações com foco ao acesso à educação superior. Iniciamos com 81 alunos em 2013, sendo 69% são do sexo feminino e 31% do sexo masculino. A variação da faixa etária foi de 15 a 50 anos, com concentração de 58,2% de 16 a 19 anos. A maioria dos alunos é originária da rede pública (91,8%) e a renda per capita se concentra na faixa de até ½ salário (72,3%), e 19,9% dos alunos recebem benefícios do Programa Bolsa Família.Foram entrevistados aleatoriamente 11 alunos que mantiveram frequência regular ao longo de todo o ano letivo. Deste grupo, três estavam no mercado de trabalho e os demais dedicavam-se exclusivamente aos estudos, condição esta assegurada pelo esforço e dedicação familiar. Apesar do baixo capital sócio-escolar-cultural das famílias, a grande maioria dos depoimentos nas entrevistas revelou uma história de cuidados com a rotina de estudos dos filhos por parte dos responsáveis, presença nas reuniões da escola, acompanhamento e preocupações nos períodos de exames escolares, apesar de não auxiliarem concretamente nos estudos dos mesmos. Do total de 11, quatro alunos relataram que poderiam vir a ser o primeiro do seu grupo familiar a ter acesso ao nível superior, motivação esta que elevava ainda mais o nível de expectativa e esforço. Todos os entrevistados se dedicavam nos estudos e buscavam superar esta difícil etapa do processo seletivo para obter acesso às instituições de ensino superior. Evidenciou-se a importância que os jovens sentem em diferenciarem-se de seus pares, contrapondo-se ao lugar comum que em geral lhes é imposto pelas instituições sociais, buscando ascender à educação superior, em busca de seus projetos de formação profissional, de realização pessoal e de melhor inserção no mercado de trabalho. A família desempenha um papel relevante na vida desses jovens, proporcionando condições concretas de dedicação e incentivo aos estudos e o curso pré-universitário auxilia os alunos na superação das dificuldades de aprendizagem e contribui para formação crítica de apreensão da realidade. Estas histórias reveladas ganham importância, contrariando o destino esperado, apreendendo explicações das possíveis estratégias que contribuíram para romper com a história naturalizada de uma escolaridade de curta duração.