ESTA COMUNICAÇÃO TEM O INTUITO DE ANALISAR AS RELAÇÕES ENTRE METAFICÇÃO, HISTÓRIA E MEMÓRIA, POR MEIO DA OBRA “O ÚLTIMO TANGO DE SALVADOR ALLENDE”, DE ROBERTO AMPUERO. NA TRAMA DESENVOLVIDA PELO AUTOR, ESCRITA E MORTE SE APROXIMAM AO AFIRMAREM PRESENÇAS E AUSÊNCIAS, NUMA LUTA CONSTANTE CONTRA OS MECANISMOS DE DENEGAÇÃO E ESQUECIMENTO, ESTRUTURADOS PELO TERRORISMO DE ESTADO CHILENO. AS PALAVRAS DE UM PADEIRO (RUFINO) E AS CINZAS DE UMA MILITANTE DE ESQUERDA (VICTORIA) SERVEM-NOS DE GUIA, CONDUZEM-NOS PELAS RUAS DE SANTIAGO E VALPARAÍSO. NUMA NARRATIVA FRAGMENTÁRIA, DE TEMPOS SOBREPOSTOS, DOIS PAÍSES EM RUÍNAS SE MANIFESTAM, COMPLEMENTARES: UM, DILACERADO PELA CONTRARREVOLUÇÃO DE PINOCHET; E OUTRO, DIANTE DA IRREALIDADE QUE SE IMPÕE, BUSCA, NOS RASTROS, (RE)APRESENTAR A MEMÓRIA, POSTÁ-LA NO PRESENTE, NÃO APENAS EM HONRA AOS DESAPARECIDOS, MAS TAMBÉM COMO FORMA DE IMPEDIR A REPRODUÇÃO DA VIOLÊNCIA PERPETRADA POR TANQUES E FUZIS. AMPUERO DEIXA, EM NOSSAS MÃOS, UM CADERNO ANTIGO, NO QUAL UMA CALIGRAFIA CONFUSA, DE GRAFITES JÁ PÁLIDOS PELO TEMPO, REPRESENTA OS VESTÍGIOS DEIXADOS POR RUFINO. POR ELE, RECONSTRUÍMOS OS MESES DERRADEIROS DA “VÍA CHILENA”. AO SEU OLHAR ATENTO NÃO ESCAPAM A SABOTAGEM ECONÔMICA, OS PROTESTOS DE UMA CLASSE MÉDIA COOPTADA PELAS ELITES, O DESESPERO DE ALLENDE E A ASCENSÃO DE PINOCHET. PELOS REGISTROS, LACUNARES, OBSERVAMOS A MEMÓRIA INDIVIDUAL TECER SEUS FIOS E TORNAR-SE COLETIVA: INDÍCIOS QUE DIZEM SOBRE O SEU AUTOR E DIZEM, IGUALMENTE, SOBRE UM TEMPO QUE SE PRETENDEU SILENCIAR. A ESCRITA E A URNA FUNERÁRIA NOS COLOCAM DIANTE DA SUTILEZA E PERVERSIDADE DA DENEGAÇÃO: A AUSÊNCIA DOS CORPOS, A CIDADE NEOLIBERAL QUE MUDA SUAS FEIÇÕES – E, PORTANTO, RETIRA OS SUPORTES DA LEMBRANÇA -, AS BANDEIRAS QUE VALIDAM UM PATRIOTISMO DE FORTE VIÉS MILITAR - TUDO PARECE ELABORAR O ESQUECIMENTO E EDIFICAR A MEMÓRIA OFICIAL DE UM REGIME QUE, MESMO DERROTADO, SOBREVIVE E PAUTA RELAÇÕES, NOS ANOS INICIAIS DA REDEMOCRATIZAÇÃO. ENTRETANTO, ESCRITAS E CINZAS DIZEM, TAMBÉM, DA RESISTÊNCIA: DENUNCIAM OS CRIMES, CINTILAM NO INSTANTE E PEDEM A REMEMORAÇÃO – MEMÓRIA ATIVA, QUE NÃO APENAS CELEBRA AS VÍTIMAS, MAS IGUALMENTE TRANSFORMA O PRESENTE.