O Diário de Lima, escrito entre 1640 e 1694, é marcado por singularidades que justificam sua escolha como eixo de análise: ter sido escrito a quatro mãos e ter sido publicado apenas em 1917. Nascido em 1601, don Joseph de Mugaburu y Honton, escreveu durante o período de 1640 a 1686, quando lhe veio a morte. Seu filho, o clérigo Francisco de Mugaburu, deu continuidade aos escritos, até 1694, quando foi convocado para atuar em outra cidade, deixando o diário de lado. Nem pai, nem filho deram título aos escritos, sendo estes resgatados posteriormente. Ao descrever aspectos da cultura colonial assentes na capital peruana do século XVII, através de narrativas dos costumes locais, dos festejos, das relações políticas e cotidianas, dos eventos de governo e dos fatos ordinários, os Mugaburu, movidos significativamente pela aspiração em retratar o que viam, escrevendo sobre uma Lima "própria", legaram a nós leitores um raro panorama da intimidade citadina colonial, seja na descrição dos atos cívicos notáveis e exorbitantes eventos reais, seja nas diversas colocações onde se posicionam como personagens ativos da narrativa e memória da cidade, revelando a importância desse espaço-análise para os estudos literários hispano americanos, do mesmo modo que tencionam as fronteiras da literatura colonial ao problematizar os limites entre história e literatura.