Este trabalho é um desdobramento da minha pesquisa de mestrado realizado no PPFH-UERJ. O estudo conceitual e os debates em sala colocaram-me a pensar, dentre outras coisas, na prática docente que é vivida, muitas vezes como uma missão. Ou seja, o professor (aquele que professa) é o profissional que cuida de salvar alunos de um estado de ignorância, conduzido às luzes do conhecimento. O termo aluno em si já alude a isso, pois se origina do latim e significa sem luz. A relação professor-aluno baliza-se em tal pressuposto ao passo que a escola opera como uma máquina de fazer sujeitos aptos ao mercado de trabalho. Logo, o objetivo aqui é problematizar a prática pedagógica salvacionista que visa curar o mau estudante, que, como um imã, atrai diagnósticos e demanda cada vez mais controle. Portanto, o conceito de produção de subjetividade em Foucault é fundamental para entender as relações de poder e saber, que aqui perpassam discentes e seus educadores na escola, o lócus gritante na produção de assujeitamentos. Gallo nos ajuda a criticar o modo de funcionar daquele que se percebe e é reconhecido como o arauto nas classes escolares, que critica o presente ao mesmo tempo que, pela sua função quase sacerdotal, produz grande desmobilização politica em termos de militância ou gestão escolar. Contudo, o docente tem grande visibilidade ao operar a máquina-escola produzindo classificações, exames, qualificações, aferindo notas e transmitindo conteúdos. Algo que atende a uma prática quase religiosa e qualifica-se com uma lógica empresarial por busca de excelência e resultados. Isto aparentemente é um contrassenso, porém, reforça a forma como lidamos com a docência. Absorvendo a lógica mercantil e a fazendo expandir, as práticas pedagógicas subsistem calcadas em uma missão e, justamente, cabem aqui ser problematizada. Para afirmar outra noção de trabalho docente o conceito de atividade explorado por Barros aponta para a experiência laboral que está além de aferir notas e conceitos e ancora-se na definição de ergologia (Schwartz e Durrivel) que reconhece as possibilidades de mudança no trabalho (neste caso docente, escolar) por meio do conhecimento de processos antigos, da implantação de outros métodos, possibilitando militâncias e a exuberância de pedagogias produzidas em coletivo.