O incesto está presente na história da humanidade desde os tempos mais remotos, sendo considerado um sintoma na cultura contemporânea. O termo remonta à Antiguidade Grega, e seu significado está vinculado às “relações sexuais entre um homem e uma mulher, pais e aliados, num grau que acarreta a proibição do casamento”. Para a psicanálise, é uma perversão sexual, um desvio da norma erótica, ou seja, um ato em que o adulto abusa de um outro, com o qual comporta um vínculo consanguíneo, colocando-o no lugar de um objeto de gozo, num movimento errante da libido. Ao desconsiderar a alteridade, tal conduta assume propriamente as feições de uma patologia. Diante de tal conjectura, nossa pesquisa, numa interface entre a literatura e a psicanálise, propõe-se a analisar, no conto Ele, do autor Dalton Trevisan, a relação incestuosa que se estabelece entre pai e filha. Esta, na condição de precariedade subjetiva em que se encontra, sucumbe ao trauma da sexualidade. Explicaremos os motivos que levam esse homem, movido por suas pulsões, a negligenciar a lei em favor de seus desejos perversos. Utilizaremos, como arcabouço teórico, os estudos psicanalíticos desenvolvidos por Schainaia (2015) e Razon (2007).