Ao longo do século XIX, a medicina decretou uma padronização dos costumes, fundada na higienização do sexo, em que quaisquer "desvios" eram considerados perturbações de ordem moral e psíquica, suscetíveis de degenerar a índole e a sanidade do indivíduo. Tomando como base as definições médicas da época, Sigmund Freud esclareceu, nos Três ensaios sobre a sexualidade, a dinâmica da perversão, que se caracteriza pela recusa à castração, como defesa frente às angústias edípicas. À vista disso, analisaremos os meandros do desejo perverso que recobre a subjetividade do personagem Ricardo, no conto "Venha ver o pôr-do-Sol", escrito por Lygia Fagundes Telles, em 1988. O enredo trata da história de dois ex-namorados, Raquel e Ricardo. Este, inconformado com a separação, resolve convidá-la para um último encontro num cemitério abandonado, e, aí, executa sua vingança, prendendo a moça numa tumba, punindo-a pelo fim do relacionamento.