A partir dos discursos presentes nas obras autobiográficas do transhomem João W. Nery, propõe-se uma reflexão sobre a trajetória histórica desse transexual, enfatizando o seu processo de (re)aprendizagem acerca dos papéis de gênero, incluindo sua adaptação em níveis sociais e individuais, contextualizadas durante um período bastante conturbado da história política brasileira – a Ditadura Civil-Militar. Tais fontes autobiográficas foram analisadas enquanto discursos construídos a partir de uma intencionalidade, em que busca-se perceber além do que está explícito na narrativa. Para atribuir sentido à estas interações, trabalhando a partir da perspectiva dos Estudos Culturais, utiliza-se os diálogos teóricos e metodológicos fornecidos principalmente por Judith Butler, Michel Foucault, Berenice Bento, Stuart Hall e Michael Pollak.