Nos anos 1950, era Copacabana o centro nervoso do Rio, um bairro agitado, com inúmeros bares e boates mais bem frequentados e tendo o samba canção como principal cenário musical. O bairro vivia certas ambiguidades e tensões de uma nova maneira de viver, mas também se percebia uma tendência clara de novas formas de se ver e sentir o mundo, novas formas de ser, de agir e de estar que eram aliadas a impessoalidade de certas relações, a uma frieza na forma de encarar a violência urbana crescente. Enquanto muitos dormiam a noite em seus lares, em algumas ruas, nos bares, boates, cabarés, restaurantes, em salas pouco iluminadas e esfumaçantes, a boemia e as tensões urbanas emergiam e eram vivenciadas de forma diversificada por seus frequentadores, homens e mulheres, que adoravam viver as aventuras e desventuras da noite. Nesse clima existencialista, na procura de algo que não se sabia o que, as cantoras que surgiram nesse momento histórico captavam com sensibilidade esse momento histórico e escolhiam as músicas que cantavam e/ou compunham, dentre aquelas que mais se identificavam. Neste sentido, este artigo tem por objetivo entender as sensibilidades femininas no mundo boêmio e musical do Rio de Janeiro, através dos sambas canção que tiveram maior repercussão no cenário musical dos anos 1940 e 1950.