A comida, enquanto alimento cozido manifesta as teias de relações sociais estabelecidas e materializadas em um prato culinário. O alimento limita-se a saciar a fome. A comida, como alimento transformado pela cultura, manifesta os processos de sua feitura e degustação, especificidades identitárias, além de hierarquias sociais e de gênero. No caldo básico da relação entre comida e gênero se configuram expressões da dominação masculina e das delimitações do lugar do homem e da mulher nas práticas culinárias destinadas aos espaços públicos e privados. Com o objetivo de investigar o universo culinário sob o recorte cultural e de gênero, a presente pesquisa foi desenvolvida pelo PET – Antropologia da UFCG, no período de 2017/2018. A partir de estudo etnográfico, a pesquisa buscou compreender como o gênero opera enquanto organizador da subjetividade dos atores no universo culinário, determinando o papel do homem e da mulher na produção e consumo da comida. Fizemos observação participante em restaurantes, residências e locais de trabalho associada a entrevistas semiestruturadas com 80 atores sociais distribuídos nas categorias cozinheiros, comensais, gerentes e proprietários, tendo como objetivo analisar as narrativas e práticas referentes às atividades de preparo, apresentação e consumo da comida. Os resultados nos revelaram identidades em mudança, mas ainda persiste a presença de mulheres em espaços públicos demarcados e guiados por orientações do papel de gênero idealizado para funções femininas “próprias” para o espaço privado, bem como uma resistência masculina para assumir a regularidade de atividade culinária na esfera familiar.