Este trabalho é o recorte de uma pesquisa de campo realizada em uma escola da rede pública municipal de Juiz de Fora-MG, cujo objetivo foi apresentar as práticas e os discursos curriculares de um grupo de professoras dos anos iniciais e finais, com o ensino da Língua Portuguesa. Desenvolveu-se a partir da reflexão de que, ao elaborar uma política curricular, devemos considerar as possibilidades de leitura que serão feitas do documento escrito e, consequentemente, as diferentes práticas que podem ser geradas e os novos sentidos que podem ser produzidos. Para o desenvolvimento desta etapa da pesquisa foram utilizadas as entrevistas, os questionários e observações participantes das aulas, adotando-se o critério de acompanhar uma sequência didática de cada professora com um conteúdo curricular em sua turma; em geral, essa sequência foi desenvolvida entre quatro a oito aulas. Observou-se que o processo de desenvolvimento curricular do docente torna-se cada vez mais importante, pois gerir o currículo implica ao docente, primeiramente, concebê-lo como um projeto contextualizado e diferenciado ainda que balizado por núcleos essenciais de aprendizagem indispensáveis à situação social e cultural do indivíduo. Elegendo os gêneros textuais como objeto de ensino da língua, a nova proposta curricular de Língua Portuguesa (PCLP), da rede municipal de Juiz de Fora propõe uma série de competências e capacidades a serem trabalhadas com os alunos enfatizando, principalmente, sua função sociocomunicativa, desenvolvendo neles aptidões que se articulam e levem-nos a serem usuários competentes dos gêneros orais e escritos, atendendo a diferentes situações de comunicação. A PCLP se dirige a um campo de interlocutores com características heterogêneas e que nem todos foram participantes do seu processo de construção, evidenciando, para este grupo de profissionais, o caráter prescritivo do documento curricular. Acreditando que os textos curriculares precisam ser considerados em seu discurso, considera-se as diversas leituras geradas por seus agentes curriculares. Foi interessante observar que a nova PCLP efetiva-se como ‘artefato cultural’, considerando-a um instrumento compreendido como um campo de lutas, uma vez que gerou interpretações e significações diferenciadas a quem a conhece e a utiliza em seus planejamentos pedagógicos. Essas diferentes leituras evidenciaram dinâmicas em sala de aula marcadas por uma prática curricular ora tradicional ora inovadora. Essas colocações denotam a importância da formação continuada e da formação em serviço para os docentes, que podem ser vistas como duas perspectivas que permeiam o campo educacional e que ajudam a construir a prática pedagógica e a firmar o papel do ensino na sociedade.