A presente comunicação tem por finalidade apresentar o resultado das investigações desenvolvidas pelas pesquisadoras envolvidas no Projeto de Pesquisa: Educação, Corpos e Culturas na Fronteira: Análise dos Programas de Saúde de Prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis e da Aids realizada com Professores Escolas Indígenas do Pantanal Sul-Mato-Grossense (1997 a 2010), notadamente, no campo da Educação e da Saúde. Essa proposta foi desenvolvida no período de agosto de 2010 a agosto de 2012 e contou com o apoio financeiro do Conselho de Nacional de Pesquisa/CNPq. Na análise das narrativas orais coletadas nas Oficinas de Prevenção das ISTs e da Aids, entre os indígenas, a metodologia utilizada fundamentou-se na Observação Participante, na História Oral e na Análise do Discurso, dita de linha francesa. Os resultados evidenciaram que a blindagem do eu, bem como sua cosmovisão registradas nas narrativas orais é, de fato, um direito dos indígenas e pode ser considerada como uma reação justa diante de uma atitude invasiva do Outro personificado pelos costumes e crenças da cultura ocidental, ainda que essa atitude invasiva tenha como escopo a própria sobrevivência física e simbólica desses indivíduos. Muitos desses costumes e crenças estruturam os discursos das campanhas de prevenção das ISTs e da Aids desenvolvidas, não só com a população indígena, mas também com os diferentes grupos étnicos que constituem a sociedade brasileira. Essas Campanhas, na maioria das vezes, obtêm poucos resultados, no sentido da apropriação de suas ações, tendo em vista que o modo de ser e viver de cada um desses grupos são desconsiderados, tornando-as ineficazes do ponto de vista da mudança e da transformação de atitude e de comportamento. Diante disso, buscamos, na verdade, organizar — na perspectiva das narrativas desses professores que residem nessa região — um referencial teórico-metodológico por meio das atividades realizadas nas Oficinas, considerando o protagonismo e os conhecimentos tradicionais desses professores e dessa comunidade, para abordar os aspectos não só da saúde e da sexualidade indígena, mas também os aspectos que abordam a história da educação escolar, que possibilita desenvolver outros projetos educacionais e de saúde com essa população. O ethos Kadiwéu, Kinikinau e Terena está vinculado ao espaço em que vivem, ou seja, são índios guerreiros e agricultores, respectivamente. Não falam das questões que envolvem corpo e sexualidade de maneira aberta e espontânea, pelo menos entre eles e nós, os pesquisadores e educadores não indígenas. Os comportamentos de envergonhamento e timidez — registrados de modo geral no contexto das dinâmicas das Oficinas — podem ser compreendidos como um mecanismo de autoproteção não só da vida privada e sexual desses indivíduos, mas de sua própria vivência cultural com essa temática.