Resumo: A revista íntima foi instituída na penitenciária Raimundo Asfora, em Campina Grande- Paraíba, ou presídio do Serrotão como é mais conhecido em todo Estado, objetivando evitar que materiais proibidos como drogas, aparelhos de telefonia celular, chips e até mesmo armas, adentrassem à unidade prisional camuflados no interior dos corpos de visitantes do sexo feminino. Todavia, jamais se cogitou que inspeção semelhante fosse levada a efeito em visitantes do sexo oposto. A presente investigação se dedica ao tema, enfatizando o seu caráter misógino, bem como todas as normas e prescrições destinadas ao corpo feminino. Corpo de mulheres visitantes, e não de apenadas, mas que ao passarem pelo aviltante procedimento de revista íntima, eram em certa medida aprisionadas, tolhidas de liberdade, desnudadas de suas vestes e dignidade. Para discorrer sobre a temática, apresento um regaste de minhas memórias, enquanto agente de segurança penitenciária, que vivenciou in loco o procedimento de vistoria corporal naquele ergástulo público. Penso que cumpre a história ouvir vozes e silêncios. Empresto dessa maneira minha voz e por conseguinte minha contribuição, adquirida enquanto profissional que esteve vis-a-vis com a tenebrosa revista íntima, mas também como historiadora, capaz de ver além das respostas ofertadas pelo espelho- objeto que fora utilizado sistematicamente na inspeção dos órgãos sexuais femininos-, Nesta perspectiva, serão apresentados conceitos como revista íntima, pedagogização, corpo feminino, representações e gênero. Neste âmbito, tenho como norte as análises pós estruturalistas com ênfase em Foucault bem como a busca pela (des)construção de uma história de sensibilidades e subjetividades. Será através de memórias que resgataremos a liberdade do corpo feminino que apesar das fugas, das reações, permanece submetido a violação e ao encarceramento.