Nascido na cidade de Macaíba, interior do Rio Grande do Norte, Henrique Castriciano de Souza (1874 – 1947) foi apadrinhado, desde tenra idade, pela oligarquia Albuquerque Maranhão, o que lhe permitiu desfrutar de uma posição de relevo na sociedade potiguar do começo do século XX. Graças à sua atuação na imprensa, mormente no jornal A República, pôde veicular suas ideias acerca da educação feminina no estado. Segundo ele, a população potiguar só progrediria por meio do melhoramento da educação, especialmente aquela votada à mulher, pilar indispensável de toda e qualquer sociedade desenvolvida. Com base nas noções de práticas e representações sociais (Roger Chartier) e na isotopia, procedimento metodológico tomado de empréstimo à Linguística, este trabalho visa analisar a ascensão de H. Castriciano à condição de publicista, em terras potiguares, ressaltando sua relação de clientelismo com a oligarquia Albuquerque Maranhão e seu interesse na educação feminina. Porta-voz dos estratos sociais dominantes no estado, Castriciano produziu, nos textos que publicou na imprensa norte-rio-grandense, uma noção de educação feminina com eles afinada, em conformidade com suas visões de mundo. Para ele, o papel social da mulher era predeterminado pelas expectativas masculinas; ela viveria para outrem, o marido e os filhos; teria que zelar pelo bom funcionamento da família, reformando, assim, a sociedade; se viesse a “deixar o lar” e “renunciar” à maternidade, não se realizaria, não cumpriria seu “papel natural”. No âmbito das fontes, utilizamos os dois primeiros volumes de Henrique Castriciano: seleta (textos e poesias), organizados pelo pesquisador José Geraldo de Albuquerque. Eles contêm boa parte da produção escrita de Castriciano (poemas e crônicas), compreendendo, inclusive, sua contribuição a periódicos potiguares como A República e Gazeta do Comércio.