Este trabalho analisa os enunciados de educação sanitária e higiênica publicados pelo jornal paraibano A União entre 1924 e 1932. Veículo estatal de imprensa, este periódico realizava a propaganda das ações governamentais e divulgava a “fala oficial” do Estado sobre os diversos campos da sociedade, incluindo a área da saúde. Em parceria com o saber médico da época, A União divulgou uma série de enunciados pedagógicos que buscavam educar seus leitores para uma “civilidade” saudável e higiênica. Por trás desta “ação pedagógica”, encontramos um projeto de nação que seria sustentado por “corpos disciplinados”: indivíduos submissos politicamente e produtivos economicamente. Desse modo, formar “corpos saudáveis” para a nação dependia necessariamente de uma educação sanitária, que foi promovida não apenas em palestras e salas de aula: ela também se materializou nas páginas da imprensa local, tendo A União exercido um papel central neste processo pedagógico. Iniciamos nossa análise em 1924, por ser o ano de fundação da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba (SMCPB), primeira associação médica do estado, cuja criação indica o processo de constituição da medicina científica na Paraíba. Caminhamos até 1932, quando a mesma SMCPB começou a publicar a Revista Medicina, periódico especializado que permitiu aos médicos locais realizarem publicações fora do circuito da imprensa “leiga”. Nosso corpus documental foi constituído por textos escritos por médicos e propagandas sanitárias de órgãos da saúde pública veiculados pelo jornal A União. Na análise destas fontes, dialogamos com os debates sobre representação social formulados pelo historiador francês Roger Chartier. Além disso, discutimos a “ação pedagógica” de A União com base nas reflexões sobre corpo e disciplina do filósofo francês Michel Foucault. Partindo destes referenciais, problematizamos as relações entre medicina, imprensa e poder político na Paraíba do começo do século XX.