O presente artigo corresponde a uma leitura do fazer poético na escrita de Adélia Prado e Cora Coralina, buscando evidenciar como esse fazer contribuiu diretamente para que as poetas reinventassem suas próprias vidas, ao passo que (re) contavam suas próprias histórias. A pesquisa aqui apresentada configura-se como uma das análises desenvolvidas no projeto de pesquisa Mal-estar na cultura: posições ocupadas pela mulher no modelo familiar burguês através da escritura de autoras brasileiras contemporâneas. A escrita poética, portanto, tornou-se um espaço pelo qual muitas mulheres puderam se auto-revelar. Embora, ainda veladas pelo medo e/ou pelo preconceito, não deixaram de trazer para suas poesias um eu confessional. Pretende-se, pois, neste trabalho, refletir sobre a relação das escritoras com seus textos poéticos, bem como perceber a relação estabelecida entre o eu imaginário ficcional e o eu subjetivo real, assumidos por elas através dos poemas Sedução (Adélia Prado) e Aninha e suas pedras (Cora Coralina). Para tanto, recorreu-se a teoria da psicanálise para compreender as manifestações subjetivas do eu através da escrita, e a teoria literária, no que diz respeito à construção do gênero/feminino nos poemas mencionados. Estas discussões estão fundamentadas no aparato teórico de Dufrenne (1969), Freud (1996), Machado (2010), Pinheiro (2003) e Telles (2010).