Ao adentrarmos na ficção de Alice Walker, deparamo-nos com a forte presença de Shug Avery na vida de Celie. Seu estilo de vida marcado pela independência, liberdade e ousadia possibilitou, tanto por finalidades ficcionais quanto reais, a demonstração do viés feminista, ou na ideologia de Walker, womanist, do ideal de mulher livre de um sistema patriarcal a que está subordinada. Nesta perspectiva, este trabalho objetiva refletir sobre o pensamento feminista nas lutas que a inserem, considerando a liberdade sexual na obra de Alice Walker A Cor Púrpura, e de como esta possibilitou a emancipação do/a sujeito/protagonista Celie. Para tal realização, moldamo-nos na pesquisa bibliográfica referente ao movimento feminista, em especial ao do feminismo negro, assim como na própria Walker quanto nos apontamentos que faz a essa nova leva do movimento, expondo, inclusive, um conceito que pudesse abranger uma maior amplitude como quanto fechar algumas lacunas existentes na primeira leva do movimento. Além disso, trabalharemos com Lacan para imprimirmos uma ligação entre a psicanálise, através dos estudos referentes ao estádio do espelho como formação do eu, e o relacionamento entre Celie e Shug Avery como forma de superação de um trauma sexual na vida da protagonista. A partir disto, relacionamos como o outro, neste caso Shug Avery, se sustentou na obra, e de como ele fora explorado pela autora ao construir a personagem, que além de situar-se como peça chave para o desencadeamento emancipatório de Celie, na visão lacaniana, fora também agente de significação de como Alice Walker enxergava a luta das mulheres na sociedade, entregando a esta personagem as características do womanism das quais considerava exemplares.