O objetivo do artigo é examinar as razões da manutenção e da reprodução da desigualdade de gênero na Economia Criativa, apesar de se apresentar como um domínio aberto e igualitário para todos os trabalhadores. O argumento central aponta que a noção ideal de “empreendedor criativo” exigida pelas indústrias desse setor da economia é uma ideia generificada que contribui para a manutenção e a reprodução da desigualdade de gênero, uma vez que favorece modelos masculinizados de trabalho desestandardizado, flexível e sujeito a mudanças, num sistema de empregos temporários e inseguros, e de trabalhador dotado de qualidades empreendedoras, com flexibilidade total e maior independência em relação a obrigações familiares. O trabalho familiar e doméstico das mulheres garante que sejam oferecidas aos homens oportunidades de assumir novos papeis reflexivos na Economia Criativa, enquanto as mulheres que atuam nesse setor da economia tendem a exercer papeis secundários ou atuarem como estabilizadoras em ambientes de trabalho para que homens possam exercer as funções criativas. Utilizando como casos para estudo os Relatórios de Economia Criativa 2008, 2010 e 2013 produzidos por instituições do sistema das Nações Unidas, defendo que os documentos sobre a Economia Criativa elaborados por instituições internacionais colocam tais indústrias como neutras no que diz respeito às questões de gênero, mas naturalizam qualidades e práticas do “empreendedor criativo” que tendem a criar vantagens para homens e apontam para o desenvolvimento de estratégias para a formulação de políticas públicas que tenderam a mudanças procedimentais formais de comportamento em vez de endereçar crenças e atitudes que garantem a manutenção da desigualdade de gênero na Economia Criativa.