O presente trabalho é recorte de uma pesquisa (em andamento) que tematiza a educação antirracista no contexto escolar. O tema é de interesse, uma vez que, já passados 20 anos da definição da Lei 10.639/2003, sua implementação no cotidiano escolar ainda é um desafio para toda a comunidade (gestão, docentes, agentes educacionais, alunos, pais, funcionários). O ambiente escolar e? atravessado pelo preconceito racial e, como consequência, crianças negras, muitas vezes, ocupam o lugar de falta. Falta de acesso, de atenc?a?o, de respaldo, de compreensão, enfim, um lugar marginalizado, um “não lugar” como elucida Djamila Ribeiro (2018). É difícil transformar as estruturas excludentes, nas quais crianças negras não são valorizadas e têm suas identidades caladas por posturas preconceituosas, ainda que inconscientes, pois encorajadas pelo racismo estrutural, mas esse é um desafio ao qual devemos nos lançar. O objetivo do trabalho é analisar acontecimentos vividos por uma professora negra e que ficaram registrados em produções escritas, a partir das quais é possível indiciar a presença de posturas racistas presenciadas enquanto criança. As escritas expressam: o silenciamento da criança negra ao denunciar ofensas racistas; a tentativa do apagamento da identidade negra; a redução da negritude à escravidão. Com isto, deixa-se em evidência a urgência de rever as práticas e posturas antirracistas e considerar a importância do educador para poder avançar na construção de uma escola justa. Trata-se de uma pesquisa narrativa da experiência do vivido (Lima, Geraldi, Geraldi, 2015) ancorada numa perspectiva bakhtiniana de fazer ciência, heterociência. Problematizamos aspectos revelam posturas racistas tanto nas relações pedagógicas como no convívio entre crianças e as possibilidades e desafios para a efetivação de ações e de posturas docentes antirracistas. O trabalho enfatiza a importância de práticas pedagógicas sensíveis e da escuta ativa no ambiente escolar.