Neste estudo, buscamos contribuir para as discussões sobre a inclusão de estudantes surdos em práticas de letramentos acadêmico no ensino superior. Considerando a recente ampliação do acesso aos estudantes surdos nesta etapa de ensino, este trabalho se voltou para a análise do que ocorre após a implantação da política de acesso, com enfoque na trajetória estudantil e na participação em práticas de letramentos. O objetivo geral foi compreender os desafios enfrentados pelos estudantes surdos, usuários da Libras, ao acessarem o ensino superior. Com esse intuito, realizamos um estudo em uma instituição pública brasileira, acompanhando a trajetória de uma estudante surda em um curso de Licenciatura em Matemática. Adotamos a etnografia interacional como lógica de investigação (Spradley, 1979; Green; Castanheira, 2001; Castanheira; Green; Dixon, 2007). Os participantes da pesquisa foram: uma estudante surda; dois intérpretes de Libras; dois professores; dois monitores de ensino do Núcleo de Atendimento Pedagógico; e a mãe da estudante. Os instrumentos utilizados para a produção dos dados foram: entrevistas; notas de campo; gravações; e observação participante. O estudo revelou desafios na participação da estudante surda em práticas de letramentos acadêmico, tais como: a falta de intérpretes de Libras no início do curso; tensões para encontrar metodologias adequadas às especificidades da estudante; e embates para a implementação de políticas linguísticas nas ações institucionais. A pesquisa também mostrou que, considerando a participação da estudante nas práticas de letramentos acadêmico, havia desafios diferentes dos que eram enfrentados pelos estudantes ouvintes na leitura e escrita dos textos, especialmente para a produção do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). A estudante surda demandou orientação mais sistematizada, considerando o português como sua segunda língua, ampliação do seu tempo de estudos e o uso da Libras como língua mediadora do processo.