O trabalho integra atividades relacionadas ao projeto de pesquisa intitulado “Mérito, moralidade e exclusão na lógica neoliberal: impactos culturais e educacionais”. Trata-se de uma pesquisa de natureza teórica, em desenvolvimento, que tem por objetivo analisar a concepção de mérito no pensamento de Friedrich Hayek e avaliar suas implicações na cultura política e educacional contemporânea e brasileira em particular. A presente comunicação tem por referência a obra “Os fundamentos da liberdade”. No seu desenvolvimento, destaca a problematização da justiça meritocrática e escolar do liberalismo social associada à igualdade de oportunidades e evidencia a existência de uma diferenciação entre o mérito moral e os resultados alcançados subjetivamente, segundo a lógica hayekiana. Essa diferenciação resulta numa mudança na forma de legitimação das desigualdades sociais, de forma que os privilégios associados à herança biológica e ambiental assumem uma orientação positiva, identificada com o benefício social, e a diferenciação individual passa a ser identificada com as escolhas subjetivas vinculadas ao exercício da liberdade. Em tal contexto analítico, abre-se espaço para a incerteza, a imprevisibilidade e o acaso do êxito, que substituem a referência à compensação meritocrática. Desta forma, o esforço, a disciplina e a boa vontade subjetiva, tradicionalmente identificadas com o mérito (em associação com o talento), resultam convertidas em disposições morais adaptativas mobilizadas em favor da responsabilização subjetiva pelas escolhas feitas, desvinculadas da promessa de resultados. No âmbito objetivo, essas disposições convertem-se em defesa do sistema econômico capitalista, que assume uma orientação moral positiva, em nome da eficiência geral da produção de bens de consumo, progressivamente socializados. Nas considerações finais, o trabalho aponta para a atualidade da temática, considerando a recepção do autor no contexto político e educacional brasileiro e o processo de moralização da política e de negação dos direitos humanos e sociais vinculados à concepção de justiça social, desqualificada por Hayek.