Com a literatura é possível romper os limites do espaço e do tempo, pois escritores e leitores entram em contato com diferentes povos e culturas já que a viagem permite um enriquecimento do pensamento. Nesta comunicação será apresentada um recorte da pesquisa realizada no período de doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – Universidade Estadual de Mato Grosso. Ao percorrer a rota da escrita feminina em Mato Grosso, do século XIX ao XX, percebemos que não existem registros da escrita produzida pela mulher negra nesse período. Luciene Carvalho é a primeira mulher preta a ocupar uma cadeira na Academia Mato-grossense de Letras. Em 2023 passa a ser a primeira escritora negra a assumir a presidência de uma Academia de Letras no Brasil. Ela é uma multiartista, atriz, poeta, diretora, ou seja, uma mulher em trânsito. O texto apresenta a trajetória da escritora com inserções analíticas de seu percurso enquanto literata. Para esta análise, selecionamos poemas das obras Na Pele (2020) e Dona (2018). Sobre a itinerância temática nas obras selecionadas perseveramos na ideia de movimento apontada nos estudos empreendidos por Walter Benjamin e Antonio Candido. Neste sentido, procuramos identificar a itinerância poética e o espírito peregrino da escritora cuiabana, tanto nas temáticas, quanto no deslocamento subjetivo do eu-poético, seja na sua performance no palco, como também por onde anda, viaja, passeia sua poesia. Luciene Carvalho coloca-se a serviço da arte, vive de sua poesia e representa genuinamente uma expressão poética da mulher negra mato-grossense. Sua envolvente poesia encanta, mas seus versos não descansam, neles residem a contínua itinerância, visto que estão sempre em prontidão para a luta.