No intuito de abranger as demandas específicas da comunidade surda, a lei da Libras (BRASIL, 2002) implementou mudanças significativas, no que tange ao reconhecimento das línguas de modalidade visual-espacial. Particularmente, ao que se nota na publicação do decreto da Libras (BRASIL, 2005), tal intento consolidou políticas públicas relevantes em diversas esferas, dentre as quais saúde e educação. Apesar disso, da mesma maneira que a língua portuguesa desfruta de posição privilegiada – fato largamente pesquisado no âmbito dos estudos do letramento –, também se dá uma supressão de outras línguas de sinais. É o caso da língua de sinais Ka'apor, cuja estrutura linguística e respectivo contexto de enunciação não foram devidamente elucidados. Em vista de essas particularidades, este trabalho tem o objetivo de cotejar as diferenças textuais-discursivas entre a Libras e as línguas indígenas no território brasileiro. Para tanto, utiliza-se, como aporte teórico, os conceitos bakhtinianos, bem como os pressupostos dos Estudos Surdos, ambos reunidos sob a lente da Linguística Aplicada (LA). Metodologicamente, esta incursão se constitui como uma revisão de literatura. Mais especificamente, selecionaram-se cinco artigos em diversos periódicos, de modo a evidenciar quais aspectos se sobressam, no processo analítico, entre as línguas em foco. Como resultado, notou-se o entrelaçamento entre língua e cultura, haja vista que, 1) no dia a dia, na consolidação das práticas sociais, as línguas indígenas reforçam o vínculo existente entre os membros da tribo, enquanto, no caso da Libras, as causas são multifacetadas (promoção de trabalho, acessibilidade, resistência de minoria); 2) igualmente à situação encontrada em famílias ouvintes com filhos surdos, os pais de crianças surdas indígenas fazem uso, por vezes, de comunicação gestual caseira, em razão do desconhecimento das possibilidades de interlocução.