A sociedade contemporânea se vê, cada vez mais, invadida por condutas pulsionalmente narcísicas, com destaque para o hedonismo, o imediatismo, as satisfações momentâneas, a fragilidade dos laços afetivos, a supervalorização da imagem, em suma, um vasto repertório de “atuações”, nas quais prevalecem o ter em detrimento do ser, ou simplesmente, do vir a ser. Nesse processo mortífero de subjetivação, deparamo-nos com enquadres marcados pela desterritorialização do sujeito que, à deriva em seu desejo, lança-se em elaborações bastante debilitadas, adentrando, desesperadamente, no campo das compulsões (por compras, comida, manifestações corporais dismórficas) ou perdendo-se no campo das adicções, seja através da toxicomania ou das adicções sexuais. Neste trabalho, em particular, debruçaremo-nos sobre a adicção sexual feminina, em sua expressão ninfomaníaca – procurando compreendê-la à luz dos conceitos psicanalíticos de pulsão de vida e de morte. Para tanto, examinaremos a película Diário Proibido (2008), dirigida por Christian Molina. Esse filme projeta a história de uma mulher encapsulada numa compulsão ao sexo, capaz de distorcer-lhe os afetos e os vínculos, tornando-a um fetiche de si mesma. A sexualidade perde, aí, seu caráter fantasístico, convertendo o ato sexual em imperativo, o que revela a baixa habilidade do adicto em controlar a sua capacidade pulsional, em decorrência de uma falha no que se refere ao autoerotismo. A emergência do sexo, a satisfação de um gozo narcísico, a falta de um objeto de afeto e de desejo conduzem a personagem a uma vivência dolorosa, onde Eros cede aos sortilégios de Tânatos, numa lógica que se repete insaciavelmente. Nossa abordagem, de veios psicanalíticos (pós)freudianos, sustenta-se nos trabalhos desenvolvidos por Joyce Mcdougall (2001) e Décio Gurfinkel (2012).