Resumo: O presente artigo surge da necessidade de questionamento acerca da forma como é tratada a figura de Maria Bonita nos folhetos de cordéis, veículos de uma formação discursiva do imaginário feminino nordestino. O fio norteador da análise é a questão de gênero, atrelada diretamente a questão de identidade de sujeito, pois o conceito de identidade de gênero nos remete a outras categorias essenciais para nosso entendimento da construção do imaginário local. O artigo é fruto de uma pesquisa de natureza qualitativa, descritiva, bibliográfica e documental, que toma como corpus de análise os cordéis “Maria Bonita - A Eleita do Capitão” e “Lampião e Maria Bonita – Celebridades do Cangaço”, ambos de Gonçalo Ferreira da Silva, além de “Amor de Cangaceiro de Lampião” e “Maria Bonita” de Vicente Campos Filho, autores que expressam através dos seus folhetos a configuração da imagem de Maria Bonita na poesia popular. Contribuíram para o estudo os fundamentos teóricos de Foucault (1988), Louro (1997), Rodrigues (2011), Santos (2014), Silva (2014), entre outros. A realização do estudo permitiu inferir que a imagem de Maria Bonita fez e faz parte da história brasileira, figura antológica, símbolo de força e de coragem, de domínio e dominação, adereços que tecem outra forma de beleza e sexualidade, o que faz dessa personalidade/personagem do imaginário nordestino exemplo de figura feminina, mulher que rompe paradigmas. O exame dos folhetos selecionados permitiu compreender que dentro do contexto nordestino a figura da mulher, diferentemente daquela representada pelos modelos e estruturas socioculturais atrelados a tradição patriarcal, dissocia-se no imaginário nordestino mediante o surgimento dessa personalidade feminina.