Este texto comunica os resultados de uma pesquisa que investigou o discurso sobre o uso do cinema para educar crianças a partir de incursões investigativas na revista Cinearte (1926-1942). Do ponto de vista teórico-metodológico, considerou-se a abordagem arqueológica do discurso, proposta por Michel Foucault (2009), como caminho norteador para análise dos dados. Tomou-se como fontes de pesquisa as 561 edições da revista Cinearte, publicadas no período de 1926 a 1942, disponibilizadas na plataforma digital da Biblioteca Nacional Brasileira. Em comparação a outros periódicos em exibição no mesmo período, a Cinearte se destacou pelo fato de defender o cinema como recurso auxiliar da educação, sobretudo voltado ao ensino de crianças. Essa foi uma das razões pelas quais se considerou importante prosseguir com o estudo realizado. Dos resultados obtidos na pesquisa, concluiu-se que o discurso sobre o uso do cinema para educar crianças, acionado pela revista Cinearte, constituiu-se a partir de duas formações discursivas: (1) uma, na qual o cinema era tratado como auxiliar do ensino de crianças, (2) outra, na qual era evidenciado a necessidade de adequar o cinema ao público expectador, particularmente o infantil. Da primeira formação discursiva, chegou-se ao entendimento de que a eficiência quanto ao uso do cinema para educar crianças esteve alinhado à ideia de que ele poderia atrair a atenção do público infantil, auxiliar seu trabalho mental e apresentar fenômenos e fatos distantes de sua realidade. Quanto à segunda formação discursiva, notou-se que, ao ser posicionado como instrumento que precisava ser adequado às crianças, o cinema foi noticiado pela Cinearte como um recurso impróprio.