As produções contemporâneas afro-brasileiras têm sido objeto de pesquisa nos mais diversos âmbitos da sociedade. A partir de diferentes abordagens teóricas, as obras da escritora Conceição Evaristo e de Carolina Maria de Jesus têm recebido estudos analíticos que buscam compreender como essas obras denunciam a desigualdade social e expõem as relações entre gênero, raça e classe. Embora tais produções tenham sido escritas em períodos distintos, é possível evidenciar as diferentes intersecções presentes na "escrevivência" de Conceição Evaristo e nos diários autobiográficos/auto ficcionais de Carolina Maria de Jesus. Sendo assim, este trabalho consiste em um estudo bibliográfico que busca analisar, interpretar e comparar as relações entre gênero, raça e classe nas obras Becos de Memória, de autoria de Conceição Evaristo, e Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina Maria de Jesus. Além disso, este estudo também busca compreender os entrecruzamentos entre escrita, oralidade e memória, a partir do teor autobiográfico e ficcional presentes no corpus de análise. Para fundamentar as discussões aqui presentes, utilizam-se os aportes teóricos de Barthes (2004), Chatier (2014) e Foucault (2009), que discutem sobre a figura do autor, Lejeune (2014) no que se refere ao aspecto autobiográfico, Le Goff (1990) sobre as relações entre memória e oralidade, Evaristo (2005), Lauretis (1994), Louro (2003) e Butler (2017) no que se refere às questões de gênero e à representação da mulher na literatura, entre outros autores. Os sentidos construídos a partir da análise das obras apontam que é por intermédio desses manuscritos e do teor auto ficcional que as experiências de vida, possibilitam não apenas a autorrepresentação, mas também a identificação. Além de fornecer uma reflexão crítica acerca do termo função-autor e das autorizações editoriais para o dizer das autoras.