Falar sobre a identidade racial da criança e negra, sobretudo no ano de aniversário de duas décadas da Lei 10.639/03, se faz importante e urgente na medida em que os diálogos tanto no campo das Relações Raciais quanto no campo das Infâncias ainda estão se estabelecendo na encruzilhada entre as duas áreas de estudo. É necessário criar cenários para que a criança e negra se insira nos debates a respeito das relações e identidades raciais desde a Educação Infantil. Neste sentido, ABRAMOWICZ e OLIVEIRA, 2010, que compreendem os novos estudos sociais das infâncias como uma área em construção no Brasil, apontam para a necessidade de considerarmos as infâncias atravessadas pelos seus contextos e marcadores sociais. A partir das obras de Literatura infantil negro-brasileira é possível construir o diálogo com as crianças pequenas a respeito de suas identidades e pertencimento racial, uma vez que Cuti, 2010, atenta para os vieses e subjetividades presentes nas obras escritas por pessoas negras, dialogando com o conceito de escrevivência de Conceição Evaristo. O objetivo deste estudo é refletir sobre a importância da Literatura infantil negro-brasileira para o fortalecimento da identidade da identidade da criança e negra, triplamente estigmatizada, pelo marcador etário, racial e de classe (FARIA et al., 2015). Espera-se que os diálogos aconteçam com as crianças desde a Educação Infantil, uma vez que, compreendendo a construção social do Brasil pautada nas relações raciais desiguais, é necessário que se dialogue com as crianças desde pequenas, para que elas, agentes e transformadoras da dinâmica social, construam novos outras percepções de pertencimento racial.