O conto “Os obedientes”, de Clarice Lispector, foi publicado pela primeira vez em 1971 na coletânea de contos Felicidade clandestina e narra a história de um casal comum que encara com normalidade e monotonia a vida conjugal à maneira que foi imposta socialmente. A rotina morna do casal desencadeia pensamentos secretos em ambos e a vontade de alcançarem seu reavivamento através de relações amorosas fora do casamento, o que não ocorre pela obediência às normas sociais do grupo ao qual pertenciam. A rotina acaba sendo mais insuportável para a mulher que, após uma epifania, leva a personagem feminina a cometer suicídio. Assim sendo, a falta de esperança e força para mudar sua situação infeliz no casamento é a responsável pela fuga da vida como forma de libertação. Nosso foco neste trabalho são as relações de gênero e como as personagens utilizam máscaras para poderem criar uma aparência enganadora perante a sociedade. Para tanto, nos pautaremos principalmente em Amorim (2014). A análise comporta dois tempos: o primeiro, focando na rotina das duas personagens principais, e o segundo, focando principalmente no cotidiano das personagens de forma individual, com foco na personagem feminina. Como resultado, percebemos que o casal segue uma rotina atenta às convenções sociais e ao que as pessoas ao seu redor esperavam delas. Para tanto, elas tinham que ocultar em seu íntimo a vontade de felicidade através de uma máscara metafórica que demonstrava contentamento através do conformismo e da obediência.