Esta comunicação apresenta dados de pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Com eles, busca-se analisar os discursos científicos produzidos no Brasil sobre o corpo homossexual feminino na primeira metade do século XX. Para tanto, balizados nos Estudos Culturais e Feministas, mapeamos e analisamos os textos de intelectuais brasileiros que visavam produzir com seus discursos, efeitos nas práticas pedagógicas desenvolvidas pelas escolas e famílias. Para a psiquiatra Iracy Doyle (1956), o médico legista Leonídio Ribeiro (1938) e o jurista Afrânio Peixoto (1934), importantes intelectuais brasileiros da primeira metade do século XX, o investimento sobre as performances dos corpos não se limitava a produzir saberes destinados a constituir o modelo idealizado de “homem” e “mulher” no interior da “ordem” e do “progresso”. Seus investimentos e pesquisas eram maiores. Sob a justificativa da prevenção, diagnóstico e cura, os corpos considerados invertidos, por não acenarem para os ideais de masculinidades e feminilidades, deveriam ser estudados na minúcia. Esses discursos acabaram por realizar um duplo jogo, se por um lado produziram um corpo para a homossexualidade feminina destacando suas performances corporais; por outro lado, destacavam a educação (familiar e escolar) como importante instrumento de estímulo ao aparecimento da homossexualidade ou de sua prevenção e cura. Neste sentido, a educação era um lócus privilegiado da atenção médico-jurídica desses intelectuais. A autoridade dos saberes médico-jurista se somou a da escola. Juntas, elas serviram como importantes porta-vozes dos discursos higienistas e eugenista do novo projeto republicano de Brasil.